Queridos Alunos,
antes que o mês de maio acabe de findar-se, vamos finalmente ao jogo que prometi. A história é bem conhecida: trata-se da cena mais eletrizante do filme "Indiana Jones e a Última Cruzada".
O pai de Indiana havia sido alvejado e ferido de morte pelos nazistas, e apenas o santo Graal poderia salvá-lo. Indiana, seu pai e os nazistas conseguem chegar ao local onde encontrava-se o cálice sagrado. No entanto, havia uma grande quantidade de cálices e ninguém sabia qual deles seria o verdadeiro. Naquela altura, qualquer erro seria fatal, tendo em vista que beber do santo Graal oferecia cura e vida eterna àquele que o fizesse , ao passo que uma escolha equivocada conduziria à morte.
O líder nazista equivocadamente escolhe um rico cálice dourado, dele bebe e morre. Já Indiana, ao contrário, faz uma escolha simbólica que remete à história de Jesus, optando por um cálice de madeira. Em seguida mergulha-o na fonte e bebe. Como não morreu, Indiana sabe que tomou a decisão correta. Leva então o cálice a seu pai, que dele também bebe, salvando-se da morte,
Se colocássemos a história sob a forma de uma árvore decisória, teríamos um jogo representado pela figura abaixo, com as recompensas expressas em número de sobreviventes (caso positivas) ou mortos (se negativas).
A seguir temos uma interpretação
das recompensas do jogo em cada uma das sequências de decisões estratégicas,
começando pelo ramo mais à esquerda da árvore:
·
Indiana escolhe um
cálice → dá para o pai
beber → cálice errado:
{ -1 ; 1 } representam { pai morre envenenado ; Indiana vive },
·
escolhe um
cálice → dá
para o pai beber → cálice
certo: { 1 ; 1 } representam { pai vive ; Indiana vive },
·
escolhe um
cálice → bebe
primeiro para provar → cálice
errado: { -1 ; -1 } representam { pai morre devido aos ferimentos ; Indiana
morre envenenado },
·
escolhe um
cálice → bebe
primeiro para provar → cálice
certo: { 1 ; 1 } representam { pai é salvo ; Indiana vive },
·
não escolhe um cálice: { -1; -1 }
representam { Pai morre devido aos ferimentos; Indiana morre baleado }.
O constrangedor da história é que Indiana tomou uma decisão sub-ótima, se quiséssemos adotar um jargão econômico. No caso em pauta, ele não se comportou segundo os preceitos da teoria dos jogos. Seguindo a diretriz de uma decisão puramente racional, ele deveria ter dado a água para seu pai sem prová-la antes (neste caso, ele teria escolhido o sub-ramo da árvore decisória que oferece as melhores recompensas possíveis). Ou seja, se Indiana escolhesse o cálice certo e oferecesse antes ao seu pai, seu pai estaria salvo e ele também (se olharmos para o final da árvore, esta situação está representada pelo segundo par de resultados da esquerda para a direita, com recompensas de { 1; 1 } para o pai e para ele, respectivamente. Ou seja: ambos vivem!). Se Indiana escolhesse o cálice errado, então seu pai morreria, mas Indiana não (olhando para o final da árvore, esta situação está representada pelo primeiro par de resultados da esquerda para a direita, com recompensas de { -1 ; 1 } para o pai de Indiana e para ele, respectivamente .Caso Indiana tivesse escolhido o cálice errado antes de dá-lo a seu pai, ambos estariam mortos, pois Indiana morreria por ter bebido água no cálice errado e seu pai morreria em decorrência dos ferimentos (situação representada pelo terceiro resultado da esquerda para a direita da árvore. Ou seja,se tivesse usado a indução reversa, Indiana jamais ter seguido pelo ramo da árvore decisória "bebe primeiro para provar".
Isso mostra que, na vida real dos filmes (hehehe), os agentes às vezes deixam-se guiar por outros impulsos, normas e motivações que não a maximização da utilidade esperada. Naturalmente voltaremos a falar sobre isso...
Bye,
Brena.
P. S. Essa história encontra-se no livro Thinking Strategically: the competitive edge in business, politics and everyday life, de Dixit e Nalebuff (pp. 49-50, se quiserem dar uma olhada).